segunda-feira, 13 de abril de 2015

UMA DOENÇA CHAMADA MALEDICÊNCIA


    
PARASHÁ TAZRIA  Lv 12.1 - 13.59   Haftará 2Rs 4.42 - 5-19   Brit Hadashá Mt 8.1-4     Salmo 106
PARASHÁ METSORÁ  Lv 14.1 - 15.33   Haftará 2Rs 7.3-20   Brit Hadashá Mt 23.16 - 24.2,30,31   Salmo 120

Na última semana, minha família e a família do pastor J.F. fizemos um agradável passeio a Tel Shiló, local onde Josué dividiu a terra entre as tribos de Israel e onde o tabernáculo permaneceu por quase 400 anos. Além da paisagem deslumbrante, das ruínas que lembram os grandes acontecimentos históricos, e da emoção de estar num lugar onde a glória de Deus se manifestou tão fortemente, lembrei-me da edificação do Tabernáculo, "Mishkan" em hebraico, literalmente lugar de habitação, o lugar da habitação do Altíssimo! Esse período, ainda no deserto, está descrito nas parashiot que estamos estudando.
Na parashá Shmini, lida na semana passada, vemos que após a consagração por sete dias, tanto dos sacerdotes como dos utensílios do santuário, o tabernáculo estava pronto para ser usado. O capítulo 9 do livro de Levítico nos fala respeito dos sacrifícios oferecidos e a pronta aceitação de Deus comprovada pelo fogo enviado dos céus para consumir as ofertas (Lv 9.24).
Enquanto observava as crianças que numa das oficinas oferecidas em Tel Shiló preparavam incenso, semelhante ao incenso usado no santuário, fui levado a pensar na história de Nadabe e Abiu. Em meio ao clima de euforia, com o início das atividades do tabernáculo, uma tragédia se abate sobre o povo de Israel: a morte dos dois jovens sacerdotes, filhos de Aarão, fulminados por Deus por terem oferecido "fogo estranho" com incenso trazido ao altar (Lv 10.1-3). Além da tristeza e perplexidade, o povo certamente foi cheio de temor e passou a considerar quão importante era obedecer a Deus em seus mínimos detalhes. É talvez por esse motivo, que os capítulos que se seguem incluindo as parashiot Tazria e Metsora, tratam da questão do puro e do impuro, do sagrado e do profano, uma orientação que depois desse lamentável acontecimento, passou a ser essencial.¹
Depois de um capítulo sobre as regras alimentares (Lv 11) entramos nas parashiot Tazria e Metsora, que tratam da contaminação causada por coisas que emanam do corpo humano (capítulos 12 a 15 de Levítico). A desproporcionalidade entre a descrição das coisas externas e internas que podem contaminar o homem é nítidamente expressa por Yeshua quando ele diz: "Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora?Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.Mateus 15:17-19. Esta mesma visão encontra-se nos ensinos rabínicos quando eles tentam esclarecer a misteriosa doença, traduzida na maior parte das versões como lepra, digo misteriosa, porque a doença descrita na Torá fala não apenas de uma doença na pele, mas algo que também pode atingir as vestimentas e as paredes de uma casa (Lv 13.47; 14.37-38), Chouraqui² usa o termo "sarna" para definir o que está descrito neste texto, mas mesmo não havendo um concenso quanto à natureza exata da doença, todos são unânimes em concordar que não se trata da atualmente chamada Hanseníase, e são muitos os estudiosos que afirmam que não se trata de uma simples enfermidade, mas a consequência do pecado da maledicência (Lashon Hará)³, como Moisés teve sua mão temporariamente leprosa por ter falado mal do povo de Israel, dizendo que eles não aceitariam sua liderança (Êx 4.6-7), ou no caso de Mirian que ficou leprosa por ter falado contra Moisés (Nm 12.1-10).⁴
O Talmude diz que “Palavras más matam três pessoas: aquela que fala, aquela de quem se fala, e a pessoa que escuta – e a pessoa que escuta é pior do que aquela pessoa que falou.”⁵, isso não é novidade para nós, Yeshua declarou: "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno."  Mateus 5:21-22  Se isso não fosse suficiente para nos conscientizar da gravidade da maledicência, veja que na lista de Paulo sobre os que não herdarão o Reino dos céus, entre adúlteros, idólatras, ladrões e outros, estão também os maledicentes (I Co 6.9-10). Mas talvez o mais terrível texto sobre Lashon Hará (literalmente língua má) está em Tiago 3:6 "A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno." e continua: "Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim."  Tiago 3:8-10
Amados irmãos, precisamos tomar cuidado com nossa língua, não é verdade que muitas vezes nossas reuniões se tornam um antro de fofoqueiros? E que muitas vezes Satanás utiliza exatamente os grupos tidos como os "mais espirituais" da Congregação para semear a maledicência? São leprosos no sentido bíblico da palavra, cuja enfermidade vai aparecendo lentamente por debaixo da pele (veja a forma bíblica de diagnóstico) até explodir como uma erupção. E esta manifestação da doença traz consequências graves:
  1. A privação da presença de Deus. Um leproso não pode entrar no santuário, por isso o salmista afirma que entre os que podem desfrutar da presença divina está "Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximo;"   Salmos 15:3 
  2. Entristecemos o Espírito Santo. Repare que o texto que fala sobre esse tema em Efésios está cercado antes e depois por orientações quanto ao falar: "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós, antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo." Efésios 4:29-32
  3. Atraímos sobre nós o destruidor quando murmuramos, uma forma de maledicência contra Deus: "E não murmureis, como também alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor." 1 Coríntios 10:10
Embora como medida profilática em relação à comunidade o enfermo devesse ser afastado do convívio social, o texto da Torá ocupa-se também da purificação de quem fora contaminado. Aqui encontramos uma série de belos simbolismos relacionados à purificação que obtemos através do Mashiach:
  1. A movimentação do impuro e do sacerdote " Esta será a lei do leproso no dia da sua purificação: será levado ao sacerdote, E o sacerdote sairá fora do arraial, e o examinará..." Levítico 14:2-3. Ambos, sacerdote e enfermo têm o mesmo objetivo, restauração do convívio com o Criador e com o povo, o impuro é levado ao sacerdote, e esse por sua vez precisa sair do arraial, já que o impuro está impedido de entrar. Da mesma forma Yeshua deixou os céus, e veio ao nosso encontro, assim ainda hoje Ele está disposto a encontrar todo o que deseja ser curado.
  2. As duas aves exigidas para a purificação trazem um paralelo interessante com os dois bodes trazidos no Yom Kipur para perdão dos pecados da Nação (veja a semelhança dos rituais em Levítico 16), um animal é morto e o outro solto (Lv 14.4-7) e com o espargir do sangue sobre o impuro vem a declaração de que ele fora limpo. "E sobre aquele que há de purificar-se da lepra espargirá sete vezes; então o declarará por limpo, e soltará a ave viva sobre a face do campo." Levítico 14:7 Tudo isso é feito fora do arraial, assim como o Messias, "E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério."  Hebreus 13:12-13
  3. Feito isso é possível retornar ao arraial, mas não sem dar continuidade ao tratamento. Muitos de nós ao sermos restaurados e sermos livres de um pecado, esquecemos que muitas vezes precisamos de um tratamento, não para perdão, mas para nos vermos livres dos embaraços, ou do que nos atrai para o pecado, é preciso lavar-se e depilar-se (Lv 14.8-9), como quem deseja se ver livre de qualquer resquício do pecado, como quem resiste ao pecado até o sangue, aceitando a disciplina de Deus como descrito em Hebreus 12: "Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado." Hebreus 12:4, e assim estar pronto para servir ao Senhor no Santuário (Lv 14.10-34)
Essa última citação de um texto relativamente longo, 25 versículos que falam apenas sobre os sacrifífios apresentados no santuário depois do leproso ter sido declarado limpo, tem um paralelo também muito interessante com a consagração ao sacerdócio descrita no capítulo 8 de Levítico, mas isso fica para outro estudo, no momento, te convido a fazer uma reflexão sobre o nosso falar e assim evitar que sejamos contaminados e contaminemos com essa terrível enfermidade da alma! E se nos acharmos impuros, esse é o momento de orarmos pedindo ao sumo-sacerdote de nossas almas, o Mashich Yeshua, para nos purificar e depois disso nos submetamos ao tratamento de Deus para não mais cairmos nesse terrível laço da maledicência. Amém!
"Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios." Salmos 141:3
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